terça-feira, 8 de janeiro de 2013

O êxodo de licenciados




PORTUGAL

O êxodo de licenciados
MARIO QUEIROZ



LISBOA - Desde os anos sessenta, quando as saídas massivas de portugueses eram uma constante, este país não sofria uma migração de tal magnitude, como a actual, com o acréscimo de que pela primeira vez inclui profissionais altamente qualificados.

Um milhão de pessoas, o equivalente a 9,8% da população actual de Portugal, radicaram-se no exterior nos últimos 14 anos, um indicador de que não para de crescer, como demonstram as recentes declarações do secretário de Estado Comunidades, José Cesário, que estimou 120.000 imigrantes em 2011 e pouco mais no ano passado.

A economia nacional começa a entrar em um período de forte recessão em 2011, com a implementação das receitas do FMI, da União Europeia e do Banco Central Europeu, a tróica de credores que concederam a Portugal um empréstimo de 110 mil milhões de dólares para salvar a economia nacional.

O plano da Tróica centrou-se no saneamento das finanças públicas, com um aumento colossal de impostos e de preços a redução de salários, a eliminação dos subsídios de Natal e de férias, e o aumento de horas de trabalho, tudo o qual fiz chegar o desemprego a níveis recordes, atingindo 16,9% da população economicamente activa, segundo dados oficiais, mas os estudos dos sindicatos apontam o desemprego em 24%.

Estes indicadores agravaram a recessão, levando a dívida pública até o equivalente a 129% do produto interno bruto (PIB), um recorde histórico, e causando o colapso neste ano de 6150 empresas, fazendo uma média de 17 por dia.

Para escapar da crise, milhares de pessoas vêem a emigração como a única saída, especialmente jovens profissionais e académicos de pós-graduação da universidade, para níveis que não podem ser comparados com outros países europeus.

As consequências que anunciam a maioria dos analistas são devastadoras para o futuro: um rápido envelhecimento da população e a consequente ameaça para a sustentabilidade do sistema de segurança social, e da "fuga de cérebros", criando um vácuo de académicos.

O fenómeno da emigração em massa dos jovens "é o resultado desejado e impulsado pelos círculos responsáveis das políticas económicas e sociais em Portugal, segundo o cientista político Bruno Mesquita, um especialista no assunto.

Mesquita, pós-graduado em ciências políticas em uma universidade dos EUA, disse à IPS que "a estrutura ideológica do poder Português favorece a concentração de riqueza no topo da pirâmide através do clientelismo, favorecimento de clãs familiares, empresariais e bancário, reduzindo simultaneamente gastos sociais em saúde, educação e infra-estrutura produtiva. "

Todas estas opções "conduzem à concentração do produto como um todo, enquanto no topo continua o enriquecimento em um contexto de uma distribuição desigual de riqueza, desta forma você precisa de uma força de trabalho pouco qualificadA, uma economia com estrutura retrógrada, com pouco valor agregado de produção, com base na prestação de serviços e produção de bens de baixo valor ", explicou.

Neste contexto, "sem um "capitalismo verdadeiro", mas sim uma versão moderada do corporativismo, é que vivem os jovens portugueses: desocupação em aumento, proliferação de empregos precários e a redução de oportunidades." Assim, embora seja só para sobreviver "a um nível meramente aceitável, estão optando por emigrar", interpretou o cientista politólogo.

Mesquita alertou para "a dimensão perversa da emigração, o que beneficia os grupos do vértice da pirâmide social, que esconde uma economia refém dos clãs, pouco produtiva e monopolizada, o que significa que não há incentivos para manter os jovens em Portugal, mas, pelo contrário, a sua partida atenua o conflito social e político ".

A eurodeputada socialista Ana Catarina Mendes, eleita pela primeira vez para o Parlamento em 1995, quando só tinha apenas 22 anos, disse à IPS que Portugal vive hoje "o paradoxo de ter a geração mais qualificada, e ao mesmo tempo a menos aproveitada".
A Democracia inaugurada em 1974 "abriu as portas para a igualdade de oportunidades na educação e deu à luz a uma geração com altas classificações, que agora em Portugal é desperdiçada" lamentou.

O governo do primeiro-ministro conservador, Pedro Passos Coelho "ditou uma nova realidade: a emigração de muitos jovens qualificados" disse.

Mendes lamentou que o Poder Executivo, "perante a enorme crise em que estamos, escolheu o caminho da destruição do país, reduzindo o investimento na economia, aumentando o desemprego, impus sacrifícios insuportáveis fazendo crescer a pobreza e as desigualdades.
 " (excertos de IPS)

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