terça-feira, 12 de novembro de 2013

Modernidade

Modernidade

Da teia peçonhenta
desenovela o fio de tormenta
em catadupas de mentiras
como corpos gelados
em tempos negros
de recessão civilizacional

Rua do Souto, 12Nov2013
Tarquínio Vieira



sábado, 22 de junho de 2013

De quantas coisas não preciso para ser feliz

Frei Betto – De quantas coisas não preciso para ser feliz

Post_FreiBetto_PasseioSocrático

DE QUANTAS COISAS NÃO PRECISO PARA SER FELIZ

Frei Betto*

“Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping-center. É curioso: a maioria dos shoppings-centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo.”
Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão. Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: ‘Qual dos dois modelos produz felicidade?’

Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: ‘Não foi à aula?’ Ela respondeu: ‘Não, tenho aula à tarde’. Comemorei: ‘Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde’. ‘Não’, retrucou ela, ‘tenho tanta coisa de manhã… ‘ ‘Que tanta coisa?’, perguntei. ‘Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina’, e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: ‘Que pena, a Daniela não disse: ‘Tenho aula de meditação!
Estamos construindo super homens e super mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados.

Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: ‘Como estava o defunto?’. ‘Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!’ Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual. Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. E somos também eticamente virtuais…

A palavra hoje é ‘entretenimento’; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: ‘Se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!’ O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.

O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, autoestima, ausência de estresse.

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shoppings centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas…

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Deve-se passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno… Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do Mc Donald…

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: ‘Estou apenas fazendo um passeio socrático. ‘ Diante de seus olhares espantados, explico: ‘Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia:
“Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz.”
* Carlos Alberto Libânio Christo nasceu no ano de 1944, em Belo Horizonte, MG. Filho de um cronista do jornal Estado de Minas e de uma autora de livros sobre culinária manifestou desde cedo a vocação para a escrita. Em 1965, entrou para o convento dos dominicanos, onde se tornou frade. Estudou jornalismo, antropologia, filosofia e teologia.
Como jornalista, atuou na Revista Realidade e no jornal Folha da Tarde desafiando a censura do regime militar. Foi preso político de 1969 até 1973.
Foi a partir de um livro publicado nesse período que ganhou renome nacional e internacional. Com o livro Batismo de sangue, de 1983, ganhou o Jabuti, principal prêmio literário do Brasil.
Assessor da Pastoral Operária e de movimentos populares, colabora com vários jornais e revistas.
Algumas obras já publicadas: Castas da prisão, 1974; O fermento na massa, 1981; O dia de Ângelo, 1987; Essa escola chamada vida, 1988 (em parceria com Paulo Freire e Ricardo Kotscho); A menina e o Alfabetto, autobiografia escolar, 2002”. 
[blogmede]
Frase_Frei_Betto_para texto

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Vasos acesos de manjericos

Vasos acesos de manjericos             

Lá pr’as bandas da alameda
tilinta o toque altivo
dos sonoros sininhos
da linda capelinha
a afinarem o tom de compasso
da folia dos enamorados
a saltar à fogueira
dos desejos ardentes

No raiar do Sol
desperta
o pomposo fontanário
engalanado
de festões coloridos
nos pavios empinados
dos balões de papel
quadras populares
acesas
em vasos de manjericos

A rapaziada aperaltada e pegadinha
apinhada de bandeiras e balões
brilha no requintado terreiro das arruadas
ao som das rapsódias da banda filarmónica
bailando repenicadas danças joaninas
expressão corporal de passos a suar em bica

Com alegria contagiante
desfilam com arquinhos e balões
figurantes rapioqueiros
cenários vivos do povo engenhoso
das marchas populares de S.João
vestidas com trajes coloridos de ternuras
em vasos acesos de manjericos

Rua de Souto, ano de 2013

Tarquínio Vieira

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Evocação



EVOCAÇÃO
LUIS DANTAS

Nasceu em Ponte de Lima a 3 de Agosto de 1946
Faleceu em Lisboa a 20 de Maio de 2011 

Vou a caminho do Chiado
para tomarmos um café de saco
 na Brazileira

Tertulias
No sítio da chávena das tertúlias
assento de quimeras faladas
o poeta da escrita humana
com todas as letras do alfabeto
palestrava em prosa indignada
contra a decadência da palavra
ruina da identidade da cultura d´um povo

P’las vielas da escrita límpida
o poeta das letras penetrantes
escrevia em lousas de letras gravadas
a autoridade do eco das palavras
abecedário da força criativa
da literatura do homem simples

P’los cânticos da Rua da Saudade
o poeta da escrita lírica de povo
caminhava nos trilhos das canetas de prosa
clamando sonhos de utopia
evolução de tertúlias civilizacionais
cadernos falados em xisto da verdade

Epílogo da obra literária do homem simples dos tempos

Rua do Souto, ano de 2013
Tarquínio Vieira
Na Sapataria em frente ao Colégio D.Maria Pia em tempo de pausa de escola





sexta-feira, 10 de maio de 2013

Comer e calar

Comer e calar

Figurões sinistros
bebereiam imoralidades
venenosas e exterminadoras
do mundo civilizacional

A barbárie anda à solta
nos pedestais dos mídias da ignorância
com as correntes da escravatura
a proclamar a morte
das liberdades e dos direitos conquistados

Comer e calar? Não!

 Rua do Souto, 10 de Maio de 2013
Tarquínio Vieira
 

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Carta a Fidel do Director-Geral da FAO



Carta a Fidel do Director-Geral da FAO
Roma, 29 de abril de 2013

Estimado Comandante:

Tenho a honra de dirigir-me ao Senhor na minha qualidade de Director-geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), para felicitá-lo muito sinceramente e a todo o povo cubano por ter antecipadamente cumprido a meta proposta pela Cimeira Mundial sobre a Alimentação, realizada em Roma, em Novembro de 1996, e que proponha reduzir para metade o número de pessoas subnutridas em cada país até o ano de 2015.

Como o Senhor bem recordará nos honrou com a sua presença nessa Cimeira e pronunciou um discurso breve, mas impactante, que ainda perdura na memória colectiva da nossa Organização. O Senhor concluiu a sua intervenção dizendo: ". Os sinos que dobram hoje pelos que que morrem de fome a cada dia, dobraram amanhã pela humanidade inteira se não quis, não soube ou não pude ser suficientemente sábia para salvar-se a si mesma" E se diz que o Senhor expressou na conferência de imprensa que se seguiu à cimeira que incluso, se se cumprira a meta não sabia o que dizer à outra metade da humanidade que não seria libertada do flagelo da fome. São conceitos que até hoje ainda conservam o seu significado e valor.

Estão passados 17 anos desde então, e agora tenho a grande satisfação de comunicar-lhe que por decisão dos seus países membros e, pela primeira vez em sua história, a Conferência da FAO, que será realizada em Junho próximo, em Roma, adoptará a erradicação total da fome como a meta número um da nossa Organização.

Em essa ocasião se fará uma homenagem a Cuba e a outros 15 países que mais êxito tem tido na redução da fome. A todos eles será entregue um diploma de reconhecimento por terem cumprido antecipadamente a meta da Cimeira. Os Países que acompanham Cuba são: Arménia, Azerbaijão, Chile, Fiji, Geórgia, Gana, Guiana, Nicarágua, Peru, Samoa, São Tomé e Príncipe, Tailândia, Uruguai, Venezuela e Vietnam.

Junto a reiterar-lhe as minhas felicitações pelo importante sucesso alcançado por seu país, quero expressar-lhe os meus melhores desejos de bem-estar e de sucesso para o Senhor e para todo o povo cubano.

O saúdo com grande estima e apreço,







Publicado em 





Carta a Fidel del Director General de la FAO
Roma, 29 de abril, 2013
Estimado Comandante:
Tengo el honor de dirigirme a usted en mi calidad de Director General de la Organización de las Naciones Unidas para la Alimentación y la Agricultura (FAO), para felicitarle muy sinceramente a usted y a todo el pueblo cubano por haber anticipadamente cumplido la meta propuesta por la Cumbre Mundial sobre la Alimentación, que se celebró en Roma en noviembre de 1996, y que proponía reducir a la mitad el número de personas desnutridas en cada país antes del año 2015.
Como usted bien recordará, usted nos honró con su presencia en esa Cumbre y pronunció un discurso breve pero impactante, que aún perdura en la memoria colectiva de nuestra Organización. Usted concluyó su intervención diciendo: "las campanas que doblan hoy por los que mueren de hambre cada día, doblarán mañana por la humanidad entera si no quiso, no supo o no pudo ser suficientemente sabia para salvarse a sí misma." Y se dice que usted expresó en la conferencia de prensa que siguió a dicha Cumbre que incluso, si se cumpliera la meta no sabría que decirle a la otra mitad de la humanidad que no sería liberada del flagelo del hambre. Son conceptos que hasta hoy siguen conservando todo su significado y valor.
Han pasado desde entonces 17 años y ahora tengo la gran satisfacción de comunicarle que por decisión de sus países miembros y por primera vez en su historia, la Conferencia de la FAO, que se realizará el próximo mes de junio en Roma, adoptará la erradicación total del hambre como la meta número uno de nuestra Organización.
En esa ocasión, se le hará un homenaje a Cuba y a los otros 15 países que más éxito han tenido en la reducción del hambre. A todos ellos se les entregará un diploma de reconocimiento por haber cumplido anticipadamente la meta de la Cumbre. Los países que acompañarán a Cuba son: Armenia, Azerbaiyán, Chile, Fiji, Georgia, Ghana, Guyana, Nicaragua, Perú, Samoa, Santo Tomé y Príncipe, Tailandia, Uruguay, Venezuela y Vietnam.
Junto con reiterarle mis felicitaciones por el importante logro alcanzado por su país, quiero expresarle mis mejores deseos de bienestar y de éxito para usted y todo el pueblo cubano.
Le saluda con gran estimación y aprecio,








Comandante
Fidel Castro Ruz
La Habana
Cuba

sexta-feira, 3 de maio de 2013

A verdade sobre a liberdade de imprensa


Retórica. Vs. Realidade
A verdade sobre a liberdade de imprensa
ERNESTO VERA

Ao fundar-se a Federação Latino-Americana de Jornalistas (FELAP) em 1976, um dos seus princípios declarava: "A liberdade de imprensa a concebem como o direito dos nossos povos de serem oportuna e correctamente informados e a expressar opiniões sem outras restrições que as impostas por os mesmos interesses dos povos. "

Muito antes, em 1951, se havia proclamado pelos jornalistas, mediante a acta de Montevidéu, que "o papel que a imprensa tinha cumprido junto a Marti, Bolivar, Mariátegui, o padre Hidalgo ou Flores Magon, foi modificado. 'O Jornalismo que tinha nascido para a liberdade se havia convertido num negócio, a notícia em uma mercadoria e o jornalista em um assalariado. A imprensa estava de costas para os povos ".

Da quinta Conferência Pan-Americana, realizada no Chile, em 1923, surge a ideia de fazer uma conferência continental da imprensa que se realiza em Washington, três anos depois. Juan Gargurevich relata que "era a primeira vez que se reuniam tantos proprietários de jornais da América Latina e não é demais recordar que os temas das diferentes mesas não incluíram os problemas dos próprios jornalistas. Aos Americanos lhes interessavam os proprietários, não os empregados ". Por certo, o presidente dos Estados Unidos naquela época era Calvin Coolidge, o mesmo que ordenou a invasão da Nicarágua contra Sandino e enviou para a cadeira eléctrica Saco e Vanzetti.

Em data ainda mais distante, 1889, José Marti disse sobre o resultado da Primeira Conferência Pan-Americana "chegou para a América espanhola a hora de declarar sua segunda independência". Nesses artigos publicados em La Nación, de Buenos Aires, está presente, como poucas vezes, o exercício do jornalismo sagaz e digno, de compromisso com a ética profissional e a pátria grande.

História mais recente

Há 16 anos no VII Cumbre Ibero-americana foi aprovada pela primeira vez em aqueles fóruns um acordo, o número 38, com o seguinte texto: "Para constituir requisitos indispensáveis da democracia reafirmamos os direitos à liberdade de expressão, de informação e de opinião, fundamentos do direito que tem as pessoas a receber informação livre e verdadeira, sem censura nem restrições".

Já passaram quase 30 anos desde que foi acordado no âmbito da UNESCO, com o apoio de todas as organizações internacionais e regionais de jornalistas, os dez princípios éticos internacionais do jornalismo. O primeiro deles: "O direito das pessoas a uma informação verídica."

Em 1980, a UNESCO aprovou o relatório McBride ( Muitas vozes, um só mundo ), documento histórico na luta pela Nova Ordem Internacional da Informação e a Comunicação (NOIIC). Do extenso texto extraímos: "Parece necessário estabelecer novos procedimentos pelos quais o público esteja em condições de exercer efectivamente o direito de avaliar a acção dos meios de comunicação social. A importância da missão jornalística no mundo de hoje exige a adopção de medidas para melhorar a sua posição na sociedade. Ainda hoje, em muitos países, os jornalistas não são considerados como membros de uma profissão, nem reconhecidos e tratados em consonância com ela ".

O Dia Mundial da Liberdade de Imprensa foi proclamada em 1993 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, cumpre 20 anos em 2013. Com este motivo, a UNESCO irá apresentar a publicação intitulada Pressionando para a Liberdade , que dá conta da revolução tecnológica experimentada por as redacções de todo o mundo nas últimas duas décadas, uma liberdade, que não se traduziu em um maior respeito pelas liberdades fundamentais.

Os proprietários dos meios de comunicação, especialmente os monopólios pró-oligárquicos, tornaram-se cada vez mais verdadeiros sequestradores da verdade e utilizam efemérides como a que se celebra em 3 de maio para os seus estreitos fins.

A SIP-CIA

Este e não outro é o resumo de uma história perversa de 124 anos que se manifesta nos nossos dias com a agravante da concentração e monopolização dos meios de comunicação que têm sua origem em aquele pan-americanismo, a eliminação das regulações contra os monopólios e a mentira em cumplicidade com os interesses imperialistas. É cada vez mais verificável o afastamento ético dos principais meios de comunicação como sistema de expressão similar do sistema que os há gerado e mantido.

A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), fundada em Havana em 1943 e refundada pela Agência Central de Inteligência (CIA) e o Departamento de Estado em Nova Iorque, em 1950, são quem tem determinado, desde então, donde existe ou não liberdade de imprensa.

É a mesma organizadora de campanhas ferozes contra tudo o que significa o direito social, colectivo, ademais do individual a receber informação precisa, que é a única base legítima para tal conceito.

A manobra consistiu em mudar os estatutos e, de um voto por país, como existia, dar um voto a cada médio filiado. Assim, os Estados Unidos tinham 424. Isso impedirá a participação na Conferência dos poucos delegados progressistas.

No caso de Cuba, a Carlos Rafael Rodriguez, que era o tesoureiro da organização, foi impedido de chegar a Nova Iorque e o confinaram na prisão de imigração que têm na base da chamada Estátua da Liberdade.

A outros, como o peruano Genaro Carnero Checa, foi negado um visto, por ter pertencido ao Partido Comunista. Assim foi o sequestro da SIP e a liberdade de imprensa, que já dura há 63 anos.

HOJE

Creio conveniente recordar esses factos porque eles expressam onde tem estado a questão essencial de uma chamada liberdade de imprensa dominante que rejeita o reconhecimento do papel dos meios de comunicação como um direito da sociedade.

Enquanto seja só a liberdade de expressão - direito individual - sustentam que a relação emissor-receptor se resolve na direcção do que recebe a mensagem e decide mudar o meio. 

Ou seja, tudo se reduz à liberdade individual de escolher um ou outro meio de comunicação, para seguir lendo ou escutando o mesmo.

Não é esse o direito que hão reclamado os médios de imprensa no seu labor subversivo de promover golpes de Estado na Venezuela?  É a mesma história que aconteceu em Cuba quando se consideraram com o direito de ser porta-vozes das campanhas das agências de notícias norte-americanas contra os julgamentos dos criminosos de guerra.

E isso não é diferente de histórias semelhantes no Chile de Salvador Allende, na Nicarágua sandinista e hoje contra Evo Morales e Rafael Correa na Bolívia e Equador, respectivamente.

De ter que responder ao direito colectivo do povo, estariam sujeitos a prestar contas à sociedade organizada e não poderiam disfrutar do direito de mentir, como têm feito e reclamado historicamente.

O direito da sociedade a exigir informações precisas, os obrigaria a reconhecer que a liberdade de imprensa, como todas as liberdades, está nas constituições dos estados e que não a comprarão com dinheiro, mas com o heroísmo dos seus povos.

Não deve haver um direito ou princípio superior a este, porque não se trata de uma liberdade surgida nos média, senão que estes disfrutam de algo que tem origens muito diferentes.

Isso explica as campanhas da SIP contra todos os fatos que citei, considerando-os ataques à liberdade de imprensa.

Onde está a liberdade de imprensa e os jornalistas quando têm como única liberdade a da empresa comercial obtida com dinheiro? Quando a SIP determina onde há liberdade de imprensa ou não, são os empresários que a integram que perguntam a opinião dos jornalistas de suas redacções? Claro que não.

Mas há mais. Todos os processos progressistas e revolucionários que foram feitos realidade tem tido contra si os principais médios desses países.

Esta experiência permite considerar que, sobre tudo nos últimos casos, especialmente em casos recentes tiveram como aliados a uma maior consciência crítica do papel sinistro que enfrentam mudanças em favor dos interesses populares.

Como nunca se está evidenciando o antagonismo entre os povos e os grandes empresários da mentira organizada ao serviço do imperialismo.

Embora a CIA-SIP rejeite qualquer debate sobre o assunto, devemos insistir em fazer mais consciência sobre o verdadeiro direito, que eles se apropriaram. E faze-lo principalmente com os nossos colegas da América Latina.

As bases débeis em que se pretende sustentar a liberdade de imprensa dominante devem levar a comemorar na data de 3 de Maio e todos os dias, a liberdade do jornalismo e dos jornalistas, que têm sido capazes de defender com a própria vida de centenas de companheiros latino-americanos e também de outras regiões.

A nossa é a única profissão em esses países que fazê-lo de forma ética pode custar tanto. É desde há muito tempo a profissão mais perigosa na América Latina e nesta lista não se incluem os grandes empresários.

Os matizes em cada país de nossa região não podem apagar a questão de fundo que se materializa na guerra mediática contra o conhecimento e a informação dos povos por parte dos médios transnacionais e de seus cúmplices locais.

Embora creiam o contrário, vivemos tempos em que a realidade é factor crescente de influência e será o determinante para alcançar mudanças positivas na sociedade.
PUBLICADO EM



quinta-feira, 25 de abril de 2013

Último Olhar


Ao Luís Tavares “El Comandante”



Estamos a 10.000 Kms de distância
A beber um mojito
Na Bodeguita del Medio

 

 Último Olhar

Hoje a música está baixa
toca em decibéis notálgicos
reproduzida em jactos sonoros de solidão
propagados na distância
em assobios de papagaio                            
                                                                         
No bufete das mãos fraternas
mar de amigos do povo sincero                                                       
A rampa
estremece de ausências
na foz dos copos de cerveja
em ondas de marés intemporais

Na sentida firmeza da Hasta Siempre!
flutuam num acerbo de vai e vem
imagens, pinturas, flamulas
acariciadas com murmúrios de boleros
p’ra não deixar morrer as ideias
pigmentadas na mesa do último olhar
mirada, em pensamentos irrequietos
do que a vida tem de cru e de belo

Hoje a música está baixa
toca em decibéis notálgicos
cantigas embaladas de ritmos infinitos
imaginários de inquietudes
levadas nas asas de papagaio
em voos picados de vazios e de ausências  

Rua do Souto, 25 de Abril de 2013
Tarquínio Vieira



segunda-feira, 15 de abril de 2013

Poema para o 25 de Abril


Poema para o 25 de Abril

Aqui é o povo que luta e resiste
liberto das amarras da submissão
força de consciência colectiva
aqui é o povo de Abril 
sem temores e sem medos

Aqui é o povo de Abril 
que vale pelo que luta
nas ruas, nas avenidas, nas praças, no trabalho
destemido a encontrar os caminhos
da construção da sociedade do homem novo
aqui é Abril em povo que traz o futuro
na força da consciência colectiva

Aqui não são quaisquer números
é o povo que luta e resiste
com as armas que tem nas mãos
feitos cravos vermelhos em Abril
aqui é o povo que luta 
pelo trabalho e pela dignidade

Aqui somos povo humanidade
em dádivas 
de amor revolucionário 
sem medos
aqui é Abril em povo 
que luta e resiste
na fábrica, no local de trabalho, nas ruas
pelo mundo melhor de felicidade e de bem-estar
aqui é o povo 
determinado em fazer cumprir Abril
posto de comando 
da luta pela soberania nacional e a justiça social
aqui é o povo 
força da consciência e da vontade colectivas 
na rebeldia do sonho de amor revolucionário 
do homem novo

 Não somos povo de pantufas e roupão
somos Abril em povo que luta e resiste

Rua do Souto, Abril do ano de 2013
Tarquínio Vieira