domingo, 30 de outubro de 2011

A bicicleta e o barquinho de papel

A bicicleta e o barquinho de papel
Entusiasmado nas pedaladas titubeantes de debute, Tatu... montado na bicicleta alugada por meia hora ao garagista da Matriz fez um recorrido pelas ruas da sua urbe. Convencido de já ter maturado o domínio do guiador e a técnica de equilíbrio  no quadro, pus peso nos pedais e a “pasteleira” num chiar de gingar é tomada por uma velocidade não calculada, galga um obstáculo inesperado no percurso, Tatu... já sem manobra de controle da ginga vai embater contra a parede de que resulta um tombo sério, olha para um lado e para outro sem perceber como acontecem estas anomalias, quando parecia estar seguro dos princípios básicos de manejar o entendimento com o veículo  de duas rodas.

Tatu... no rescaldo do susto do tombo sério é surpreendido por uma tempestade outonal altamente chuvosa, pega no barquinho de papel, feito por mãos habilidosas, põe-lo a navegar no reacho das águas da chuva ao encontro de uma viagem sem timoneiro e sem bandeira pela rota dos sonhos almejados desde o ponto de partida até ao ponto de chegada. E o barquinho de papel lá foi navegando na enxurrada até desaparecer de vista levado pela corrente de ventos e marés até outras paragens para atracar ou encalhar na solidão à espera de outras mãos habilidosas, determinadas a  dar-lhe nova rota de navegação.

A manhã desperta com o alvoroço da azáfama do dia de feira, Tatu... pega na sacola da escola e caminha pelo recinto da feira, bom-dia Senhor António da Bouça... Olá rapaz... então que me dizes... ó senhor António deixe-me dar uma voltinha na sua bicicleta... Sim deixo, mas no fim da escola, já sabes aonde ela está! Tatu... caminhou até à escola num ápice a conjurar a aventura da liberdade de ter uma “pasteleira” à disposição para dar uma curvas. Montado na bicicleta partiu sem destino, ainda não se tinha ajustado ao quadro é mandado desmontar  por um agente da fiscalização... ora então vamos lá apresentar a carta de velocípedes... mas eu não tenho nada disso, e agora?.... agora vais dizer lá em casa que tens de tirar a carta de velocípedes, e tens sorte ficarmos só por aqui!

Desiludido, Tatu... deixa a bicicleta aparcada no mesmo sitio. Pega na sacola de serapilheira da escola e a barafustar com a má sorte do dia, vem-lhe à mente o que terá acontecido ao barquinho de papel? Ao menos que tenha dado a bom porto e ido parar a boas mãos! Os barquinhos de papel são livres como o pensamento não precisam de ter autorizações de nada nem de ninguém para navegar por onde a corrente queira.

Barquinho de papel
Barquinho de papel
sem nome, sem patrão
e sem bandeira
navegando sem timão
por onde a corrente queira.


Aventureiro audaz.

Pirata de papel quadriculado
que minha mão, sem passado,
deitou à beira dum canal.



Quando o canal era um rio.
Quando o tanque era o mar
e navegar
era brincar com o vento.
Era um sorriso em tempo
fugindo bem feliz
de país em país
entre a escola e minha casa.
Depois o tempo passa
e você esquece aquele
barquinho de papel.



Barquinho de papel

em que estranho areal
estão encalhados
teu sorriso e meu passado
vestidos de colegial.


sábado, 8 de outubro de 2011

SOPRANDO NOS VENTOS DA ESPERANÇA

SOPRANDO NOS VENTOS DA ESPERANÇA

Sentado no banco da meditação, Guga... mergulhou  no bosque das rarezas e encontrou-se com o moinho de papel zumbido nos ventos do Outono ao encontro do perfume das azinhas das uvas morangas penduradas nas videiras relaxadas da safra das vindimas.

Os momentos são a vida mesma, é como o moinho de papel em mãos de criança correndo nos ventos da esperança do sabor de uma chávena de cacau quente nas madrugadas frias do encosto dos sonhos do outono da vida. Guga... embalado pelos redemoinhos do caderno virtual dos apontamentos, saboreou o divino sabor de uma chávena de cacau no Mercado da Ribeira, depois da noitada de bailarico na Colectividade originária da sua região, acompanhada pelos ritmos do nascer da azáfama dos pregões dos vendedores e vendedeiras, a manta destapada do ganha pão do dia-a-dia da luta pela dignidade do trabalho.

Ao clicar na tecla dos segredos do Outono boreal, Guga... foi encaminhado para os saberes da resistência, como enfrentar as quedas na temperatura e vencer o amarelar do cair da folha das árvores. Metido com o pensamento dos seus botões, carregou no link da conversação e estabeleceu ligação com a Deusa heróica... que logo formulou o seu comentário... Sabes Guga... hoje o despertar do dia-a-dia não tem a eira cheia das colheitas do outono, estamos em tempos vestidos de hipocrisia selvagem, nunca a minha cabeça foi obrigada a pensar tanto na hora de ir às compras, as famílias cada vez mais vêem a folha dos seus apertados orçamentos não florir para pagarem as despesas essenciais, até já o direito aos alimentos, obrigam-nos a cortar em tudo aquilo a que temos direito, causa da quebra dos rendimentos, ao aumento desenfreado de impostos e à degradação contínua do mercado de trabalho, ou seja ao desumano desemprego.

Assim mesmo é Deusa heróica... Estes ventos do Outono sopram aos nossos ouvidos com a mensagem urgente que é preciso derrotar a repugnante sociedade neoliberal para poderem ser semeados os campos para produzir a esperança de reconquistar a arca dos alimentos das famílias, do direito ao trabalho, da educação e do direito de sonhar com a felicidade dum moinho de papel a soprar nas mãos de todas as crianças do planeta terra, sem fome e com paz.