Diez Consejos para los militantes de izquierda
9 DICIEMBRE 2003
Frei Betto Publicado em: 
Dez Conselhos para os
Militantes de Esquerda
1. Mantenha viva a indignação.
Verifique periodicamente se você é mesmo de esquerda. Adopte o
critério de Norberto Bobbio: a direita considera a desigualdade social tão
natural quanto a diferença entre o dia e a noite. A esquerda encara-a como uma
aberração a ser erradicada.
Cuidado: você pode estar contaminado pelo vírus social-democrata,
cujos principais sintomas são usar métodos de direita para obter conquistas de
esquerda e, em caso de conflito, desagradar aos pequenos para não ficar mal com
os grandes.
2. A cabeça pensa onde os pés pisam.
Não dá para ser de esquerda sem "sujar" os sapatos lá
onde o povo vive, luta, sofre, alegra-se e celebra suas crenças e vitórias.
Teoria sem prática é fazer o jogo da direita.
3. Não se envergonhe de acreditar no socialismo.
O escândalo da Inquisição não faz os cristãos abandonarem os
valores e as propostas do Evangelho. Do mesmo modo, o fracasso do socialismo no
Leste europeu não deve induzi-lo a descartar o socialismo do horizonte da
história humana.
O capitalismo, vigente há 200 anos, fracassou para a maioria da
população mundial.
Hoje, somos 6 bilhões de habitantes.
Segundo o Banco Mundial, 2,8 bilhões sobrevivem com menos de US$ 2
por dia. E 1,2 bilhão, com menos de US$ 1 por dia. A globalização da miséria só
não é maior graças ao socialismo chinês que, malgrado seus erros, assegura alimentação,
saúde e educação a 1,2 bilhão de pessoas.
4. Seja crítico sem perder a autocrítica.
Muitos militantes de esquerda mudam de lado quando começam a catar
piolho em cabeça de alfinete. Preteridos do poder, tornam-se amargos e acusam
os seus companheiros (as) de erros e vacilações. Como diz Jesus, vêem o cisco
do olho do outro, mas não o camelo no próprio olho. Nem se engajam para
melhorar as coisas. Ficam como meros espectadores e juízes e, aos poucos, são
cooptados pelo sistema.
Autocrítica não é só admitir os próprios erros.
É admitir ser criticado pelos (as) companheiros (as).
5. Saiba a diferença entre militante e "militonto".
"Militonto" é aquele que se gaba de estar em tudo,
participar de todos os eventos e movimentos, actuar em todas as frentes. Sua
linguagem é repleta de chavões e os efeitos de sua acção são superficiais.
O militante aprofunda seus vínculos com o povo, estuda, reflecte,
medita; qualifica-se numa determinada forma e área de actuação ou actividade,
valoriza os vínculos orgânicos e os projectos comunitários.
6. Seja rigoroso na ética da militância.
A esquerda age por princípios. A direita, por interesses. Um
militante de esquerda pode perder tudo – a liberdade, o emprego, a vida.
Menos a moral. Ao desmoralizar-se, desmoraliza a causa que defende
e encarna. Presta um inestimável serviço à direita.
Há pelegos disfarçados de militante de esquerda.
É o sujeito que se engaja visando, em primeiro lugar, sua ascensão
ao poder. Em nome de uma causa colectiva, busca primeiro seu interesse pessoal.
O verdadeiro militante – como Jesus, Gandhi, Che Guevara – é um
servidor, disposto a dar a própria vida para que outros tenham vida. Não se sente
humilhado por não estar no poder, ou orgulhoso ao estar. Ele não se confunde com
a função que ocupa.
7. Alimente-se na tradição da esquerda.
É preciso oração para cultivar a fé, carinho para nutrir o amor do
casal, "voltar às fontes" para manter acesa a mística da militância.
Conheça a história da esquerda, leia (auto) biografias, como o "Diário do Che na Bolívia", e
romances como "A Mãe", de Gorki, ou "As Vinhas de Ira", de
Steinbeck.
8. Prefira o risco de errar com os pobres a ter a pretensão de
acertar sem eles.
Conviver com os pobres não é fácil. Primeiro, há a tendência de
idealizá-los. Depois, descobre-se que entre eles há os mesmos vícios encontrados
nas demais classes sociais. Eles não são melhores nem piores que os demais seres
humanos. A diferença é que são pobres, ou seja, pessoas privadas injusta e
involuntariamente dos bens essenciais à vida digna. Por isso, estamos ao lado
deles. Por uma questão de justiça.
Um militante de esquerda jamais negocia os direitos dos pobres e
sabe aprender com eles.
9. Defenda sempre o oprimido, ainda que aparentemente ele não
tenha razão.
São tantos os sofrimentos dos pobres do mundo que não se pode
esperar deles atitudes que nem sempre aparecem na vida daqueles que tiveram uma
educação refinada.
Em todos os sectores da sociedade há corruptos e bandidos. A
diferença é que, na elite, a corrupção se faz com a protecção da lei e os bandidos
são defendidos por mecanismos económicos sofisticados, que permitem que um especulador
leve uma nação inteira à penúria.
A vida é o dom maior de Deus. A existência da pobreza clama aos
céus. Não espere jamais ser compreendido por quem favorece a opressão dos
pobres.
10. Faça da oração um antídoto contra a alienação.
Orar é deixar-se questionar pelo Espírito de Deus. Muitas vezes
deixamos de rezar para não ouvir o apelo divino que exige a nossa conversão, isto
é, a mudança de rumo na vida. Falamos como militantes e vivemos como burgueses,
acomodados ou na cómoda posição de juízes de quem luta.
Orar é permitir que Deus subverta a nossa existência,
ensinando-nos a amar assim como Jesus amava, libertadoramente.